Mesa de encerramento debate jornalismo e povos originários
Programação do último dia do evento destacou o papel da comunicação comunitária
Texto: Rafaela Nogueira Cirqueira (Estudante de jornalismo sob orientação da professora Mariza Fernandes)
Fotos: Lucas Borobo
A programação do último dia do Intercom CO 2024 começou na manhã desta sexta-feira (7) com uma discussão sobre jornalismo e povos originários, trazendo as experiências de projetos que visitam as comunidades e o papel da comunicação comunitária.
Com mediação do Professor Dr. Nilton José (Laboratório Magnífica Mundi/FIC UFG), a atividade também contou com a participação do Dr. Aluizio Azevedo, cigano da etnia Calon, jornalista e pesquisador (Ministério da Saúde e Fiocruz), da jornalista quilombola do povo Kalunga, Maria de Fátima Pereira Tertuliano (Prefeitura de Cavalcante–TO), do jornalista e professor Dr. Edson Silva (UFMS), e do CEO da Rádio Yandê, Anapuaka Tupinambá.
A discussão iniciou com alguns informes sobre a greve estudantil deflagrada na Universidade Federal de Goiás (UFG) em 9 de maio. Após uma votação em plebiscito, os discentes optaram por continuar em greve e realizar mobilizações por diversas pautas, conforme descritas em uma carta entregue à reitoria. Para mais informações sobre a greve, discussões e outros informes, é possível acessar o Instagram: @dceufg.
Luzia e as Calins do Cerrado
Em seguida, foi apresentado o curta "Luzia e as Calins do Cerrado", realizado pelo Núcleo de Audiovisual da AEEC-MT e pelo Fundo Elas+, que aborda as mulheres do tronco étnico Calon. O curta traz a história dessas mulheres, que produzem barracas para servir como abrigo para os povos durante suas viagens noturnas, onde, ao chegarem em fazendas pelo caminho, eles "embarracam".
A produção teve sua estreia nesta manhã. Esta é a segunda temporada da produção, composta por cinco episódios estrelados por mulheres Calin que residem em dois estados do cerrado. Zilma Rodrigues (Rondonópolis–MT), Audelena Dias Cabral (Rondonópolis), Sara Macedo (Goiânia–GO), Fernanda Caiado (Cuiabá–MS) e Luzia Alves Porto (Sinop–MT). O episódio exibido no Intercom é estrelado por Calin Zilma Rodrigues.
A contribuição da comunicação popular
A jornalista Maria de Fátima iniciou a discussão abordando o jornalismo como forma de dar voz e visibilidade àqueles que precisam. Após apresentar um vídeo realizado em sua comunidade, gravado pelas crianças e produzido em parceria com elas, exibido na Rádio Kalungueira, a jornalista trouxe reflexões sobre a comunicação popular. "As pessoas têm noção do que querem comunicar e como querem comunicar, é preciso apenas que essas tecnologias cheguem até elas", explicou.
Dando continuidade ao debate, o jornalista e professor Aluizio Azevedo, responsável pelo documentário exibido na programação, trouxe informações sobre a comunidade cigana, apresentando exemplos de estereótipos e preconceitos, destacando a importância do jornalismo não se envolver com a estereotipagem, mas sim usar sua influência para combater os preconceitos enraizados. No contexto da comunicação comunitária, o professor ressaltou o valor do trabalho "free style" para comunicar, visando combater estereótipos e fornecer informações honestas, enquanto preservando a cultura e a língua local.
Rádio comunitária
O representante da Rádio Yandê Anapuaka Tupinambá, idealizador do projeto de comunicação indígena "Etnomídia", apresentou o projeto que busca uma comunicação menos eurocêntrica e capaz de representar com fidelidade as necessidades dos povos originários. A intenção é construir uma linguagem comunicacional capaz de atender às diversas especificidades étnicas, principalmente nas questões indígenas.
Criada para suprir todas as necessidades, a Rádio buscava inovar ao apresentar produções indígenas. Inicialmente no Rio de Janeiro, hoje está presente em toda a América Latina, oferecendo uma programação completa e rica em diversidade cultural, comprometida com a informação equitativa e de qualidade. "Yandê" significa "nós" em Tupi, e “busca mostrar que os povos indígenas podem”, explicou Anapuaka.
O papel da academia
E para finalizar a mesa, o jornalista e professor Edson Silva abordou a contribuição que o meio acadêmico pode trazer para a comunidade, ao produzir conhecimento a partir das experiências e vivências de cada ser humano. Nesse sentido, o professor destacou a importância de a universidade e os acadêmicos buscarem vivenciar para além da teoria, convivendo com aquilo que estudam, divulgam e abordam em suas construções científicas. "O discurso é a representação da realidade? Não, o discurso é a realidade, pois é uma realidade construída", exemplificou.
Edson também ressaltou a importância da construção de laboratórios de rádio nas comunidades, levando os meios de comunicação para a população que deseja e sabe comunicar. "A comunicação de nós para nós mesmos dialoga com o mundo inteiro", concluiu o professor. O debate foi encerrado com a participação de alguns ouvintes e suas conclusões da manhã.
Fonte: Intercom Centro-oeste
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